Efeito manada?

SOMOS GADO!

 Se você, como eu, sempre assiste às notícias na TV, deve se lembrar do documentário em que a Globo divulgou o trágico caso “Escola Base” que ficou conhecido como o pior erro jornalístico do Brasil.

O fato é, que há cerca de trinta anos, o repórter Valmir Salaro noticiou sobre uma suposta rede de abuso sexualdentro de uma escola infantil em São Paulo, no bairro da Cambuci.   

Em março de 1994, o casal Icushiro Shimada e Maria Aparecida Shimada, proprietários da escola, viram suas vidas mudarem do dia para a noite: sem provas concretas, a comunidade foi impiedosa em julgá-los, condená-los, prendê-los e até torturá-los. A escola foi fechada e depredada; sua família desfeita, suas vidas e de suas famílias, destruídas.

Maria Aparecida, atentou contra sua própria vida duas vezes, vindo a falecer em 2007, de um câncer. Seu marido, Icushiro, sofreu um infarto no ano do caso e, em 2014, morreu em consequência de uma nova parada cardíaca.

Depois de denúncias que se espalharam como fogo em palha seca, dúvidas passaram a ser levantadas pela polícia sobre a autenticidade das acusações. 

No fim, os suspeitos foram inocentados e passaram de supostos criminosos a vítimas do incidente, mas já era tarde demais.

 Valmir foi demitido da empresa.  Assumiu sua parcela no erro, mas declarou que vê as autoridades - legistas, o delegado, o promotor, o juiz do caso - também como responsáveis, e atenta para fatos como esse, que todos sabemos não ser único, demandam cuidado e atenção, no momento de compartilhar informações com procedência duvidosa.

Valmir usou os elementos que tinha em mãos, e revelou coragem ao se redimir do erro que marcou sua carreira.    

O EFEITO MANADA

Mas por que somos tão suscetíveis em acreditar em tudo o que ouvimos?

Porque somos tão rápidos em acreditar, mencionando conceitos como viés de confirmação, e a tendência em se interpretar informações de maneira a confirmar crenças ou hipóteses pré-concebidas?

Todos temos uma tendência perigosa de acreditar cegamente em fofocas e fake news sem questionar sua veracidade.  

A psicologia social explica que tendemos a seguir o que a maioria acredita. Se muitas pessoas ao nosso redor estão indignadas com uma acusação ou fofoca, é difícil ir contra a corrente. Preferimos aceitar a versão popular a sermos vistos como discordantes.

Acreditar sem questionar tem consequências reais. Empresas fecham, casamentos terminam, amizades se desfazem e pessoas inocentes são condenadas no tribunal da opinião pública. Um simples sussurro nos ouvidos da pessoa errada pode destruir reputações, relações e até vidas. Em tempos de redes sociais, uma mentira pode dar a volta ao mundo antes que a verdade tenha chance de se defender.

Como podemos ser menos crédulos?

  1. Verifiquemos as fontes antes de compartilharmos ou acreditarmos em algo, busquemos fontes confiáveis.
  2. Questionemos a intenção: Quem se beneficia dessa história? Há alguma motivação oculta?
  3. Esperemos pelos fatos: Acusações graves exigem provas concretas.
  4. Evitemos espalhar boatos: Se não há certeza, não compartilhe.
  5. Desenvolvamos o pensamento crítico: Não aceitemos tudo como verdade apenas porque é impactante ou porque já ouvimos estórias semelhantes ou já temos um certo preconceito estabelecido.